Assassin's Creed Origins: Ubisoft, you're doing it right.
Demorei 134 horas, 36 minutos e 20 segundos a completar a 100% o Assassin's Creed Origins, ganhando o agradável troféu "Tudo Meu". Mas podiam ter sido facilmente mais umas 5 ou 10 horas, pois muitas vezes dava por mim a deixar-me galopar ao acaso olhando o mundo lá de cima, através dos olhos de Senu*. Confesso que estava céptico quanto ao décimo Assassin's Creed e o seu regresso ao passado, a um passado anterior aos próprios Assassinos e que descobrimos no jogo ser o mundo dos Ocultos (The Hidden Ones), os predecessores dos Assassinos. Ora, eu estava errado. Não que o Origins não pudesse ter corrido mal. Podia. O risco era grande. Mas a Ubisoft esteve à altura e conseguiu assim ganhar mil anos de potenciais sequelas para a série Assassin's Creed.
O que primeiro impressiona é a qualidade dos gráficos e a amplitude do mundo que podemos percorrer (e isto ainda sem as duas expansões já anunciadas, uma delas já disponível há alguns dias). Assassin's Creed Origins começa por ser um jogo belíssimo e convidativo. A possibilidade de poder sair de Cyrene a cavalo ao cair do dia e cavalgar até ao oásis de Siwa, alternando entre a visão da estrada romana sob os cascos do nosso fiel alazão (ou do nosso fiel camelo) e a visão das montanhas verdes vistas do alto, pelo olhos da fiel águia de Bayek, eis um prazer relaxante. É verdade que de vez em quando há o ocasional bando de malfeitores que nos tenta emboscar na estrada, mas a partir de um certo nível, eles deixam de ser uma preocupação e passam até a ser uma diversão.
O segundo aspecto que impressiona são as side quests. São muitíssimas, muito interessantes, e tornam o jogo muito mais do que a história principal, que sendo interessante fica assim muito mais rica. A Ubisoft mantém o bom equilíbrio entre ficção e realidade histórica, o que para os interessados no período é uma delícia. Desde Christian Jacq que não me interessava tanto pelo antigo Egipto e ainda aprendi umas coisas sobre a presença romana na atual Líbia, a velha Cyrenaica, e sobre a grega dinastia ptolomaica.
A terceira coisa que me impressionou foi o novo sistema de combate e de mellhoria de atributos e equipamentos de Bayek. A combinação de ambos faz do combate em Assassin's Creed um arte cheia de estratégia e tática (eu sei porque morri diversas vezes a tentar perceber qual a melhor combinação para derrotar deuses e elefantes). O controlo do nosso protagonista é agora mais amplo, mais natural e a diversidade de armas reflete as suas efetivas capacidades, com vantagens e desvantagens. Além disso a ordenação dos equipamentos em comuns, raros e lendários traz um desafio extra (passei muitos minutos à procura da melhor arma lendária de entre as várias que tinha, para cada missão difícil).
Depois há o modo Pesadelo (Nightmare Mode), em que o jogo se revela bastante mais difícil do que o normal e por isso muito mais interessante. Além da faculdade auto-nivelamento (auto-level) dos inimigos, em que os inimigos mais fracos do que nós ficam automaticamente com o nosso nível.
No que toca à História e história, o regresso ao início dos Assassinos, ainda antes de eles existirem, traz dois aspectos interessantes. Em primeiro lugar faz perceber que o grande confronto entre Assassinos e Templários é na verdade uma luta de arquétipos filosóficos e reproduz-se também na luta entre a Ordem e os Ocultos em Assassin's Creed Origins. Há aqui, para utilizar uma dicotomia moderna, algo de Locke versus Hobbes, que é muito interessante, pois não é a típica e simplista luta do bem contra o mal mas uma verdadeira batalha pelo triunfo de uma visão política. Os Assassinos mais lockeanos e os Templários mais hobbesianos. E que melhor momento histórico do que o fim da era ptolomaica e o fim da República romana com o início do Império. Até temos direito a testemunhar os Idos de Março. Além disso é bom podermos jogar novamente com uma mulher como em Syndicate, embora Aya prometesse muito mais. Espero que regresse noutro título ou, pelo menos, DLC.
Por outro lado, fica uma questão por responder que dará mil anos de oportunidades à Ubisoft: como se fez a transição dos Ocultos, a cujo nascimento assistimos neste jogo, para os Assassinos de Altair Ibn La'Had que conhecemos no primeiro Assassin's Creed durante a III Cruzada. Pela minha parte gostaria de ver um ou vários dos próximos jogos a contar a história dessa transição durante esse milénio. Lugares e épocas não faltam mas há um que seria espectacular e que tem toda a razão de ser: o Califado de Cordóva.
Ainda há 2 DLC para jogar (já estou a jogar o primeiro) mas Assassin's Creed Origins já ganhou o seu lugar entre os grandes títulos da série e para mim está ao nível de Assassin's Creed Revelations (ah, os telhados de Constantinopla...) logo atrás de Assassin's Creed IV Blackflag. E isso para mim é dizer muito: são os meus jogos preferidos.
* - Claro que para vaguear a cavalo ao som de uma grande banda sonora há um jogo que ainda bate tudo e que, quando posso, ainda jogo na PS3 só para relaxar nas grandes planícies: Red Dead Redemption. Mas isso chama uma história que contarei noutra altura.