Utilitza la llengua (para) Resistir ao Tempo
Quando em abril de 2003 fotografei esta imagem num parede de Gràcia não fazia a mínima ideia de que pertencia a uma campanha de sensibilização e promoção da língua catalã. Estava de regresso a Barcelona e à Catalunha onde tinha alguns amigos que falavam a língua, para mim muito interessante pela sua estranheza face ao castelhano. Era uma língua que me soara antiga, medieval, mas que pela voz dos meus amigos perdera esse timbre e tornara-se uma língua viva, presente, urbana, (aliás como o Provençal ou Occitano, que adoro ouvir cantado por Moussu T e lei jovents). Esta imagem e esta frase ficaram guardadas nos meus ficheiros e na minha memória como um símbolo desse meu fascínio, que nunca contudo passou além disso, além desse gostar de ouvir catalão e de tentar percebê-lo. Acho natural um português sentir-se em casa nas línguas românicas.
Daí que esta imagem e esta frase me pareçam perfeitas para apresentar uma antologia de poesia catalã, organizada por Àlex Tarradelas, Rita Custódio e Sion Serra Lopes, intitulada "Resistir ao Tempo". Os dois primeiros organizadores são meus amigos e o Àlex é um dos catalães com quem tenho o privilégio de poder conversar sobre a Catalunha e o catalão (infelizmente não tanto como gostaria). Foi graças a ele e à Rita Custódio que conheci um poeta de que muito gosto, falecido este ano, Joan Margarit.
Esta antologia vai permitir-me, finalmente, mergulhar no catalão, para mais através de poesia, que totalmente desconheço. A mim e a todos os que gostem de conhecer nova poesia, em línguas que não são normalmente acessíveis. É uma edição bilingue da Assírio & Alvim e tem uma magnífica introdução do Àlex, que me permitiu em poucas páginas aprender muito sobre cultura e língua catalãs. Além disso, ao folhear a extensa antologia e ao ler alguns dos seus poemas pude aperceber-me da ligação temática que muitos destes poetas têm com Portugal e Lisboa, algo que também desconhecia.
Divisa
A l'atzar agraeixo tres dons: haver nascut dona,
de classe baixa i nació oprimida.
I el tèrbol atzur de ser tres voltes rebel.
Maria-Mercè Marçal (1952-1998)