Pedrógão, o Grande
Ontem, já tarde na noite enquanto trabalhava, comecei, pelo Twitter, a perceber a dimensão da tragédia de Pedrógão Grande. No meio de todo o sofrimento uma mistura de memórias começou a assomar-se ao meu espírito. Em primeiro lugar, o Verão de 2003 em que tanto ardeu que às tantas fui para o Ribatejo da minha mãe simplesmente ajudar a levar pessoas de um lado para o outro, tal era a dimensão da ajuda necessária. Mas depois fiquei fixado no nome. No sangue e no coração tenho outro Pedrógão. Nem o Grande nem o Pequeno. Um bem pequenito, do Alentejo. É difícil que arda, pois está perdido no meio da planície aberta, mas o fogo arranja sempre uma maneira, se tiver de ser. Contra ele podemos pouco, mas temos sempre que tentar tudo. E de repente parecia que estava de novo no meio dos incêndios de 2003 mas agora recriados no meu Pedrógão. E achei que o inferno do outro Pedrógão, do Grande, era este, o de facilmente conseguirmos a empatia de perceber simultaneamente a dimensão do sofrimento e a nossa (quase) impotência perante ele. Mas podemos fazer alguma coisa: ajudar os bombeiros, desde logo, e quem precise de algum auxílio, mas também contribuir para que mais e melhor política exista em torno da prevenção e do combate aos incêndios. Não podemos fazer muito mais do que isto, para além de lembrar os mortos e os despojados. E tomar toda esta calamidade como um pretexto para pensarmos em como estamos todos ligados de algum modo.