Ian McShane
É tempo de falarmos de Ian McShane.
Ian McShane, Ian McShane, por onde começar? O meu medo é que para muitos McShane seja apenas uma personagem secundária do Game of Thrones (que foi). E isso para mim é intolerável.
Talvez seja injusto dizer que a hora de Ian McShane ainda está para chegar. E talvez seja injusto porque Ian McShane, com uma carreira que começou aos 20 anos, em 1962, conta com várias participações interessantes quer no cinema, quer na televisão.
É verdade que no cinema, apesar de alguns papéis principais nos primeiros anos, acabou por se assumir com um grande ator secundário. Por exemplo, aos 27 anos entrava em Battle of Britain (com Laurence Olivier, Christopher Plummer, Michael Caine, entre outros) no que era já um prenúncio do que seria a sua carreira no cinema: mais um genial ator de apoio do que um protagonista renomeado. Esta toada mantém-se até hoje, assegurando que encontremos McShane sempre como uma agradável surpresa, e incapaz de atuar mal, em alguns filmes de culto. Para além do já referido Battle of Britain, ainda apetece referir Sexy Beast já em 2000 (de Jonathan Glazer com Ben Kingley) ou John Wyck em 2014 (um discreto e enigmático, Winston)
Mas talvez seja na televisão que a tal injustiça da minha afirmação se revele mais. Afinal McShane é o protagonista de Loveyjoy, um clássico da televisão inglesa e americana dos finais dos anos 80 e princípios dos anos 90 e tem um dos papéis principais em Deadwood. E aqui, façamos uma pausa. Deadwood.
Talvez a injustiça da minha afirmação se revele aparente. Afinal a hora de Ian McShane talvez já tenha chegado para aqueles que apreciam boa televisão. É o caso de Deadwood. Apesar de McShane, desde Lovejoy até Deadwood (2004-2006) e mesmo depois, ter feito notáveis aparições televisivas (é o caso de Miami Vice, Perry Mason, Columbo, Ray Donovan e, finalmente, a já referida Game of Thrones), a verdade é que o seu melhor momento foi Deadwood. O seu Al Swearengen, ajudou a tornar Deadwood uma das melhores séries produzidas este século, uma espécie de West Wing do Oeste Selvagem, como o Rui Branco uma vez disse.
Esta sua prestação apenas bastaria para darmos o devido valor a um ator que continua a ser subestimado ou que talvez seja simplesmente um prazer partilhado por poucos. Na verdade a sua prestação em Deadwood é tão boa que agora que ela corre o risco de ser suplantada encontro-me a rever a série. E continua tão boa como da primeira vez que a vi.
Suplantada porque em 2017 teremos American Gods. E Ian McShane será Mr. Wednesday. É evidente que aqueles que nunca leram o romance de Neil Gaiman não percebem a beleza de tudo isto. E é claro que ajuda ser um fã de Gaiman e já ter lido o romance duas vezes (a segunda há alguns meses coincidentemente quando se soube que a Starz tinha decidido avançar com a adaptação televisiva), mas mesmo assim, o trailer já deve ajudar mesmo aqueles que não sabem o que os espera, quer no romance, quer na série. Por mim só posso dizer que talvez McShane tenha aqui uma oportunidade ainda melhor do que a de Deadwood para continuar a lutar contra a tal aparente injustiça. Mas já há pelo menos uma justiça que é feita. Depois do pobre Ray de Game of Thrones, nada melhor do que voltar como Mr. Wednesday (sim, vocês sabem do que eu estou a falar). Let's look at the trailer:
American Gods chega em 2017. Parece uma eternidade. O que neste caso, faz todo o sentido.
(em estéreo com a noite americana)