8 meses, 8 artistas, 8 agradecimentos - Fevereiro - Filipe Alves
Foi há cinco anos que tive a ideia de utilizar a banda desenhada para promover os sistemas públicos de resolução alternativa de litígios. Na altura era director do então Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios (GRAL) do Ministério da Justiça e convíviamos diariamente com o desafio de ter um conjunto de serviços bem avaliado pelos utentes, mas que se via a braços com um problema de desconhecimento. Exactamente o problema inverso ao dos tribunais, curiosamente.
Uma vez que tínhamos dados que nos mostravam que os principais utilizadores dos sistemas públicos de mediação, dos julgados de paz e dos centros de arbitragem apoiados pelo Estado, tinham como perfil etário os 25-45 anos e provinham sobretudo de meios urbanos, estando dispostos a recorrer a serviços públicos novos, eu e a minha equipa passávamos boa parte do nosso tempo a tentar encontrar formas inovadoras de dar a conhecer os serviços que geríamos e assegurávamos. Em 2010 surgiu-me a ideia de fazer uma banda desenhada, com uma história inspirada em cada um dos nossos serviços. A questão mais difícil, como quase sempre nos serviços públicos portugueses, tinha que ver com dinheiro. Havia poucos recursos disponíveis - mesmo muito poucos - para divulgação, que, aliás, na Justiça ainda hoje ou é mal vista ou é particularmente quadrada, quase sempre reduzindo-se a publicidade institucional.
O que fazer? Havia que pagar aos artistas, a produção do álbum e depois a distribuição. Para além das questões financeiras, havia que fazer um álbum com qualidade e que fosse eficaz a passar a mensagem pretendida: os sistemas públicos de resolução alternativa de litígios são realmente alternativos aos tribunais, em quase tudo, e sobretudo na atitude.
Reduzindo os custos em praticamente todas as fases, mesmo assim foi preciso encontrar um parceiro/mecenas que avançasse com o GRAL para que houvesse capacidade financeira para executar o projecto, sobretudo para pagar aos artistas. Aqui devo o primeiro agradecimento deste post à Comunidade Ismaili portuguesa, que, dado o seu envolvimento e experiência em meios de resolução alternativa de litígios, entendeu associar-se à iniciativa da banda desenhada, não apenas suportando parte dos custos, mas indicando mesmo dois dos artistas que viriam a contribuir para o álbum.
O segundo agradecimento vai para Nelson Dona, director do Festival Internacional de Banda Desenhada (FIBDA) - Amadora BD, que respondeu com enorme entusiasmo e generosidade ao repto de indicar jovens artistas portugueses de banda desenhada que pudessem estar interessados em contribuir para o álbum. O Nelson foi absolutamente decisivo ainda para outro aspecto que contribuiu muitíssimo para a divulgação e distribuição do álbum: a sua associação e lançamento no FIBDA de 2010. Sem ele o álbum não teria sequer começado a ser pensado seriamente. Renovo aqui um agradecimento muito sentido.
Com estes dois preciosos apoios foi possível avançar e escolher os artistas das Sete histórias em busca de uma alternativa, cujos argumentos, apenas com uma excepção, foram escritos por Álvaro Áspera. Foi também o Álvaro que deu a ideia de homenagearmos grandes artistas e títulos da banda desenhada portuguesa, ao mesmo tempo que cada história se dedicava a um dos serviços públicos oferecidos pelo GRAL. E convidámos ainda um artista para fazer a capa, também por sugestão do Álvaro, em boa hora.
Neste ano de 5.º aniversário das Sete histórias em busca de uma alternativa dei por mim a reler, mais uma vez, o álbum e a pensar em como gosto realmente dele e, sobretudo, como acho que faz bem o seu papel de cativar os leitores para a utilização de meios de resolução alternativa de litígios, que se querem flexíveis, rápidos e com o envolvimento das partes. Secretamente espero um dia descobrir que se tornou num álbum de culto.
Por tudo isto, a 8 meses do próximo FIBDA - Amadora BD e com 8 artistas a quem agradecer - um para cada história (com a excepção de Pedro Colaço que desenhou duas histórias), a argumentista de uma das histórias e o desenhador da capa -, resolvi em cada mês que falta para o Festival, escrever um texto de agradecimento sobre cada uma das histórias dos artistas (e a capa). É verdade que fica a faltar o Álvaro Áspera, que além de ter escrito seis dos sete argumentos, coordenou as histórias de modo a que tivéssemos realmente um álbum, uma filosofia com um espírito unitário e que pudesse atingir o objectivo de divulgação pretendido. Mas para o Álvaro ficará um texto final de reflexões finais.
Este agradecimento, ou este renovado agradecimento, é tanto mais importante para mim por duas razões. Em primeiro lugar não conhecia nenhum dos artistas antes de eles se terem envolvidos no projecto e a experiência não podia ter sido melhor. Alguns deles são hoje meus amigos. Além disso, creio que as suas criações são exemplo de uma grande generosidade, que merece ser conhecida e reconhecida. São também um marco na normal política de comunicação da Administração Pública.
Por isso, sem mais delongas, e porque o texto vai longo, o meu primeiro agradecimento aqui fica para o Filipe Alves, cuja belíssima capa (e contracapa) que ilustra as sete histórias em busca de uma alternativa e que podem ver no início deste post. Ela ilustra na perfeição o espírito comum que emerge das sete história do álbum e tem uma tal força que sempre que a olho, lá abro mais uma vez o álbum para o reler. Muito obrigado.
Em Março há mais.