Dar por quem não dá
Inflamam-se as gentes pela imprensa fora, e não só, contra as fundações privadas que tanto dinheiro consomem ao Estado, entre apoios directos e benefícios fiscais, como demonstrado pelo Relatório da Avaliação às fundações.
Sendo este relatório importante - nunca nada semelhante havia sido feito em Portugal! - e abstraindo do tom algo paternalista e estatizante, para não ir mais longe, o relatório importante, contudo, é o que foi apresentado em Março passado, intitulado Portugal's Nonprofit Sector in Comparative Context, e que pouca atenção mereceu dos media.
Aí, como notou Marçal Grilo, impressionado, pode perceber-se que o peso da filantropia privada no Terceiro Sector português é de 10%, valor acima ao do Canadá é verdade (8%, mas onde o Estado contribui com 51%, mais 10% do que o Estado português contribui e onde vai agora cortar). A média da filantropia privada, nos países de referência do estudo, é de 20% e da contribuições do Estado é de 30%.
Numa análise simplista (mas não muito longe da verdade) pode dizer-se isto: o Estado compensa a falta de filantropia privada. É justo fazê-lo? Depende da ideia de comunidade política que tenham. Eu pela minha parte acho que se queremos que o Estado dê menos por todos nós, então se calhar é preciso que quem tem mais comece a dar pelos outros, ou seja, pelo Estado. Mas é só uma reflexão.